24 de dezembro de 2011

feliz 2012!

Picasso por Cartier-Bresson

21 de dezembro de 2011

o que é uma criança?


"As crianças choram porque uma pedrinha caiu na água, porque o xampu faz arder os olhos, porque estão com sono, porque está escuro. Choram alto, para todo mundo ouvir. Para se consolar, elas só precisam de um olhar carinhoso. E de uma luzinha ao lado da cama."























"As crianças têm coisas pequenas como elas mesmas: uma cama pequena, pequenos livros coloridos, um guarda-chuva pequeno, uma cadeira pequena. Mas elas vivem num mundo muito grande; tão grande, que as cidades não existem, os ônibus se erguem no espaço e as escadas não têm fim."

"O que é uma criança?", de Beatrice Alemagna (Martins Fontes), é um livro feito de retratos, um grande livro em mais de um sentido. É bom de segurar entre as mãos e de ler com aquela parte em nós que não mudou, embora a Beatrice diga que "todas crianças são pessoas pequenas que um dia vão mudar".

19 de dezembro de 2011

nossos primos


A história começa assim: "Na primeira página há um grande vazio, sozinho" (o vazio é o maior personagem na capa do livro acima). "Todos estão atrasados. O céu está no chuveiro e a terra está arrumando os cabelos, e a água, que está nas nuvens e no chuveiro ao mesmo tempo, também tem que esperar. E o vazio bate o pezinho, impaciente. Humph!" Bob & Co. (ou Bob & Cie no original), de Delphine Durand, é um mito cosmogônico adorável e cômico em que os personagens (inclusive deus!) disputam a página em branco, discutindo a ordem dos fatos na criação do mundo e da própria narrativa do livro. Afinal, ninguém sabe como a história começa. "Ok, diz a terra. Eu tenho algumas reclamações! A água está tomando todo o espaço! Isso não tem nada a ver comigo, diz a história; eu só sou responsável pelas ideias." Bom demais!

15 de dezembro de 2011

o rei acha que manda...

 — Xô! — exlamou o rei, que tentava espantar uma abelha da flor. — Eu sou o rei daqui — gritou ele.
— Eu também — disse a abelha, e picou.
— Como vai você? — o rei perguntou ao livro.
— É o que eu pergunto a você o tempo todo — disse o livro.

Do livro "O Rei e o Mar", de Heinz Janisch. Ilustrações de Wolf Erlbruch (Companhia das Letrinhas). Parábolas delicadas sobre um rei cujo poder é desafiado por toda sorte de seres, objetos e fenômenos: um trompete, o cansaço, um gato, a chuva, um esquilo, o céu, uma estrela, uma nuvem, um lápis e, claro, o mar.

11 de dezembro de 2011

verde limão


Eu e meu irmão. Cada um de um lado da bicicleta. Entre nós, ela, a mãe, sentada no banco enquanto seguramos o guidom. Ela tenta pedalar. As pernas tremem. A bicicleta imita o movimento do corpo. Ela, que aos quarenta e poucos anos ainda não sabe andar de bicicleta, insiste. Não se cansa. Nós, ainda crianças, sim, nos cansamos. Distraídos com a tarefa de implicar um com o outro, largamos o guidom e rolamos pela grama com cheiro de capim limão, encenando uma luta. De repente nos damos conta de que ela, a mãe que achávamos nunca iria aprender a andar de bicicleta, está descendo a ladeira que conduz à rua de baixo, enquanto pedala, instável e satisfeita. Rapidamente já estamos de pé, correndo para alcançá-la, gargalhando entre os grãos de poeira e os raios do último sol.