Primeiro veio o nome, fada inflada, em letras minúsculas, como quem não quer nada.
Pressa? Nem pensar!
A fada é avessa ao ritmo rápido do mundo.
Trançar as sílabas de uma história-porvir se faz com um passo pra frente
e outro pra trás. Às vezes esse ziguezague dava uma zonzeira.
Era preciso descansar.
Então eu tecia outros contos, como se a fada na estivesse lá.
Após um ano, a fada resolveu compartilhar sua história, que já estava ali há muito
tempo, no canto da memória – não sei se dela ou minha, se minha ou dela – enrolada
feito um gato numa poltrona macia.
Como eu imaginava, não deu outra, a fada fugiu das solenidades para fazer sua
aparição. Escolheu justo uma tarde em que eu voltava pra casa/escritório depois do almoço,
sem caneta ou lápis à mão. Subi de elevador para chegar mais rápido até o papel,
onde anotei as palavras que o vento me soprou. Dei à fada um corpo da cor do céu.
Mais um ano se passou e a fada finalmente arranjou um jeito de vir ao mundo
com traços de tinta preta e aquarela.
Agora falta pôr o livro na gráfica e sentir aquele cheiro bom de tinta estampada
na página. No fim de novembro, a fada irá voar na mesma praça redonda onde ela
deu o ar de sua graça.