28 de outubro de 2012
Por aqui estamos muito felizes com o nascimento de Anotações Noturnas, da Tati. O livro foi vencedor do concurso 10x15 - livro em pequeno formato, realizado pela Publicações Iara, de Sampa. O lançamento aconteceu na Turnê, uma feira de livros muito bacanas feitos por gente de várias editoras independentes do Brasil. Tem mais sobre o livro aqui. (As fotos lindas aí de cima são da Fernanda Grigolin). O livro está à venda na loja da Iara.
21 de julho de 2012
sem palavras
Às vezes as ideias que gostam da noite nos segredam narrativas que esquecemos pela manhã. A gente costuma chamar essas histórias de sonhos. Vez ou outra sonhamos virando as páginas de um livro-imagem (aquele não tem nenhuma palavra impressa). O Sonho de Vitório, de Veridiana Scapelli, é tão bom que a gente chega a duvidar se foi o porquinho roliço e simpático quem sonhou, ou nós. Parece que Vitório apareceu de repente, como quem não quer nada, fazendo Veridiana sonhá-lo no papel para nós. Veja o relato da autora/ilustradora sobre o processo de criação do livro aqui.
21 de junho de 2012
nuvem
Katsumi Komagata começou a fazer livros para crianças quando sua filha Aï nasceu, em 1990. Conheça a delicadeza concisa de Nuvem e de outros trabalhos do designer no site da editora One Stroke.
23 de abril de 2012
a doce ironia de Isol
A menina queria ter os cabelos mais longos e um cavalo para ir à escola. Mas não tinha essas coisas. Ela queria ser forte como uma árvore. Mas não era. Um gênio aparece de repente concedendo-a um desejo. "Só um?" Pronto: "Quero TUDO!". "Tudo não tem", diz o gênio, oferecendo à menina um coelho cinza. Ah se o coelho fosse azul...! Pero no. Cosas que Pasan, de Isol. Para curar ataques intermitentes de insatisfação.
15 de abril de 2012
na varanda
Os desenhos formam pequenas histórias, delicadas em escala, mas não menos brutais por isso. Há muito espaço e silêncio entre as páginas. E é como se os eventos acontecidos na varanda durante um verão fossem colhidos pelo tempo. Lembra o que Bashô dizia sobre o haikai: "é apenas o que está acontecendo aqui e agora". E o que acontece é muito. "O Bonsai parecia o mesmo..." Só parecia.
25 de março de 2012
amizade incomum
“Fazia tempo que o pato sentia que algo
não ia bem”, diz o narrador. Nesse momento conhecemos a morte, no mesmo
instante em que o pato repara que ela está acompanhando-o. A morte com seu
camisolão quadriculado e sapatilhas pretas. Ela é miúda, quase delicada, a
despeito da cabeça de caveira. Tem a medida do pato, como se fosse seu duplo ou
sombra, e carrega uma tulipa roxa – algo que nunca é mencionado no texto e
que o pato nem sequer percebe ou problematiza. Erlbruch faz o pato reagir à
presença da morte com uma sutileza marcante. Ele arregala os olhos, o corpo
ereto, e pergunta: “você vai me levar agora?”. A morte diz que está sempre por
perto por via das dúvidas.
O pato, por sua
vez, demonstra uma gentileza ingênua: “Vamos até o lago?”, pergunta. “Esse
era o medo que a morte tinha”, mas o pato a convence. Depois do mergulho, ele
se oferece para aquecê-la: “Ninguém jamais havia feito a ela uma proposta
parecida”. Na página inteiramente branca, Erlbruch desenha um pedaço de arbusto
e o pato, cobrindo o corpo frio da morte com suas asas e pescoço lânguidos. Assim, os dois iniciam um convívio imprevisto, improvável.
Se a morte num primeiro momento assusta o pato, em outro, ela se mostra paciente. Mais do que isso, ela é
(quase) seduzida pela vida. A maneira como Erlbruch põe os dois para
conversarem, e a animação contida demonstrada pela morte quando ainda existe a
possibilidade dela passear um pouco mais, revelam uma relação de estranha
familiaridade, um encontro tão inevitável como natural. Quando o
pato começa a sucumbir, aparece um corvo solitário no centro da página. O
pássaro voa sem a companhia das palavras na página. Grita de bico aberto, em
silêncio estridente. O pato começa a fraquejar. Aos poucos, a relação entre ele e a morte se torna contemplativa. “Nas semanas seguintes, eles
foram cada vez menos ao lago. Ficavam a maior parte do tempo sentados na grama,
e falavam pouco”.
“Estou com frio – disse o pato uma noite – Você não quer me
esquentar um pouco?” A imagem que acompanha essa pergunta é a do pato segurando
as duas mãos da morte. Estão cara a cara, próximos como em nenhuma outra página
do livro. Sentimos uma pontada. Sabemos o que vai acontecer. Mesmo assim
viramos a página, pois temos confiança nessa morte, nem invasiva, nem
truculenta, essa morte sub-reptícia, que é afinal um fato da vida, nos
transmite uma estranha coragem. E assim, na próxima página, em que pela
primeira vez aparece a cor azul, vemos a morte sentada ao lado do pato,
observando sua figura quieta e serena com uma expressão de (quase) tristeza.
“Alguma coisa tinha acontecido”, escreve o narrador.
Uma neve fina e delicada – pontos minúsculos na página azul – cai sobre
os dois. É chegado o inverno, o luto, o recolhimento. A morte então alisa as
penas no corpo do pato. Não vemos o seu gesto porque Erlbruch prefere
apenas dizê-lo: “A morte alisou algumas penas que tinham se arrepiado um
pouquinho”. Imaginamos a morte
deixando seu rastro no corpo do pato, feito uma marca invisível. E então, como
se fizesse parte de uma solenidade, a morte caminha com o pato nos
braços até o rio, o pato cujo pescoço outrora quente e aconchegante, pende, sem
vida. A morte molha os pés, embora não goste de se molhar (como Erlbruch nos
mostrou em uma das primeiras páginas do livro), põe o pato na água, e a tulipa
em cima do corpo, dando-lhe um “leve empurrãozinho”. À beira do rio imenso, ela observa o pato aos poucos desaparecer. “Por pouco a morte não ficou
triste. Mas assim era a vida”.
Clique aqui para ler uma entrevista com Wolf Erlbruch.
8 de janeiro de 2012
quando a mãe vira um balão...
Em "El Globo", de Isol, escritora/ilustradora argentina, uma menina de repente vê seu desejo realizado: a mãe brigona e escandalosa se transforma em um balão vermelho. A menina encara a satisfação e o estranhamento provocado por essa súbita mutação. O balão instaura o silêncio, mas é também vermelho gritante. Isol consegue traduzir sentimentos complexos, tais como a raiva, sem nomeá-los explicitamente. Assim deixa espaço para o leitor se relacionar com a narrativa como bem quiser, ou precisar. (editora Fondo de Cultura Econômica).
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