20 de junho de 2014


Encontro maravilhoso na UFSCar com os integrantes do Observatório da Educação Escolar Indígena, coordenado pela querida Clarice Cohn. Uma pororoca de ideias sobre letramento, regimes de visualidade, modos de transmissão de conhecimento, tradução, oralidade. É impressionante como a realidade das escolas em aldeias indígenas é diversa. Ao mesmo tempo em que é um direito e uma conquista dos povos que buscam ferramentas para uma participação política efetiva, a escolarização, do modo como é promovida em alguns contextos, reflete as limitações de uma determinada concepção de escola que se tornou dominante mundo afora, em que a aprendizagem se dá pela via da reprodução de conteúdos e informações, em geral transmitidos por textos assertivos e lineares, algo extremamente problemático em culturas orais em que a produção de imagens é fundamental [seja nos recursos narrativos empregados, seja na produção de desenhos corporais ou na tecelagem, e assim por diante]. Foi muito interessante falar dos livros ilustrados [levei uma pilha grande na mala!] e tentar buscar ali caminhos para entender como, mesmo em processos de aprendizagem que visam o letramento, a imagem não deve ser descartada ou considerada uma expressão a ser ultrapassada [como se pertencesse apenas às paredes das cavernas ou aos murais do jardim da infância]. A imagem pode, ao contrário, dialogar com o texto para criar outros modos de leitura do mundo, não calcados exclusivamente na palavra escrita e na transmissão de conteúdos unívocos. De que modo a escola em área indígena [que na verdade é a nossa escola já caduca e contestada] pode [e deve] se deixar transformar por modos outros de transmissão de conhecimento sem perder o empoderamento que ela supostamente promete trazer? Questões todas muito complexas e instigantes. Adorei ouvir Artur Garcia falar sobre a sua experiência como professor indígena entre os Baniwa, do Amazonas, e Luciano Ariabo Kezo, que é Umutina, do Mato Grosso, refletir sobre os perigos da fixidez da palavra escrita enquanto falávamos de tradução. Obrigada a Amanda Marqui, Camila Beltrame, Eduardo Belezini e Ana Elisa Santiago, por terem compartilhado também um pouco de suas pesquisas de campo. E ainda bem que estavam lá, pra pensarmos tudo isso, Rafaela Soldan e Arthur Brandolin! Foram muitas as ideias nesse encontro deliciosamente interessante, que nem esse bolo de laranja aí que a gente traçou na hora do café.

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