26 de maio de 2008

outono no Morro dos Prazeres

O sinal toca. As crianças disparam com as mochilas penduradas num braço . Querem chegar primeiro na escadaria que desce da escola em direção a suas casas. Correm por puro prazer. Correm porque são crianças. E qualquer mudança, nem que seja de lugar, é bem-vinda. Elas vão pulando de degrau em degrau escada abaixo. As maiores atropelam as menores. Algumas levam pela mão seus irmãos caçulas. De repente, uma rajada seca de tiros detém as crianças, que são impelidas a voltarem para a escola, como uma onda em reverso. São 17:13 e o caveirão está subindo. Na escola, as crianças e os adultos atiram-se ao chão. Uma mãe arranja fôlego para indagar quando deve matricular o seu filho mais novo. Sua pergunta é inaudível em meio aos tiros que envolvem a escola com seu abraço terrificante. Após um tempo impossível de definir, o barulho cessa. Um comunicado sem rosto e sem voz diz que o caminho está livre. É chegada a hora de ir para casa. As crianças não correm mais. Suas pequenas pernas pesam feito chumbo. A professora de música caminha, pálida, em direção ao seu carro estacionado no do morro. Um passante sussurra: “Se você, que está descendo, está com medo, imagina eu, que estou subindo...” A professora sabe que o morador não espera uma resposta. Ela chega no carro a tempo de atender a um pedido. Socorrer uma criança. Uma criança ferida na testa. (relato feito por nossa amiga Liza, no dia 23 de maio)

7 comentários:

Val Becker disse...

Oi, Lulu!
Sabia que esse dia, depois de tudo, me traria bons fuidos...
Encontrar você e conhecer esse espaço foi o melhor presente.

Sabe que li, essa semana, o livro 'Bom dia, camaradas!' - do escritor angolano Ondjaki - que tem uma passagem muito semelhante a esse relato da Liza. Só que lá foi alarme falso e era ficção!!!
Já aqui... que medo e tristeza...

Um beijo e parabéns!
Aparece :)

Val.

Val Becker disse...
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Cristiana Soares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristiana Soares disse...

Nossa, Luiza, que comentário mais lindo e poético vc deixou lá no Blogtalk!!! Como vc escreve bem... estava lendo agora mesmo o texto do perfil desse blog ... encantador!

Ontem estive aqui fazendo uma visitinha. Tá tudo demais! Tanto que linkei A Fada Inflada no blog do "Por que Heloísa?". Depois vou linkar no BlogTalk tb.

Só não deixei nenhum comentário porque fiz um minuto de silêncio ao ler esse post "Outono no Morro dos Prazeres"... é tão triste... tão... sei lá... só um sem-palavras mesmo diante de tamanho absurdo!

No mais, tudo isso isso aqui tá do balaco!

Quando a gente vai se conhecer pessoalmente?

Beijo em vc e na sua parceira que escreve com aquarela.

sobre nós disse...

Oi Cristiana, sabe que fiquei muito feliz quando descobri que o livro escrito por voce, "Por que Heloísa", também tinha um blog. Deu o maior gás na gente saber que estamos de alguma forma compartilhando um caminho... seguindo o percurso de nossas histórias mundo afora.

O silêncio também pousou por aqui desde que escrevi este post que na verdade diz respeito a centenas de escolas no Rio de Janeiro...

Um beijo,
Luiza

Cristiana Soares disse...

Então vamos combinar nosso encontro para o final de junho! Anotae meu e-mail que depois eu te passo meu telefone por ele: cristiana.sr@gmail.com.

beijocas

cris

Mariana Kaufman disse...

meninas fadas!
amei o blog, sempre
a fad voou comigo!

tenho coisas e entregar a vocês...
e que triste este último relato...

visitem meu novo bloguinho tb : )

beijo beijos
mari