4 de outubro de 2008

no centro da vida

Todo adulto foi criança. Isso talvez bastasse para dizermos algo sobre o que é ser criança. Estivemos . A infância é um estado e não apenas uma passagem de uma idade para outra. Quase um fim em si mesmo, embora esperemos das crianças que cresçam. A infância fica ali, sempre aquém ou além da nossa capacidade de lembrar. Ser criança é maior do que a memória. É antes de mais nada pura presença (nem inocência idealizada, nem impulso sem direção). Por ser pensamento provisório, passageiro, inacabado que preenche cada instante de um modo diferente, a infância talvez seja por definição impossível de ser rememorada. Massinha de modelar saindo pelas bordas do molde. Generosa, espessa, colorida e maleável.

Então, como não conseguimos falar como quem foi criança, falamos do alto de nossa "adultez". Qualificamos, discriminamos, analisamos as crianças. Suas fases, suas demandas, suas especificidades. Usamos instrumentos de observação e deliberamos o que dar de alimento aos menores: livros, filmes, atividades, enfim, educação (palavra cuja acepção no dicionário inclui "domar, "domesticar"...). Oferecemos explicações, travestindo de certeza as ambigüidades da vida. "A criança precisa sentir-se segura", dizemos. Então escrevemos histórias em que as palavras não sonham, criamos personagens cheios de bons conselhos. É melhor postergar a crueza das coisas.

, de repente, a criança vira pra gente e pergunta, como fez o filho de 5 anos da escritora Anne Provoost: “Mãe, podemos saltar do mundo ou estamos presos aqui?”. E também: “Será que daqui um milhão de anos as pessoas vão pensar que somos bobos?” Mais do que pedir respostas, as perguntas das crianças abrem espaço para as palavras e os pensamentos. Se ouvirmos bem essas perguntas, se olharmos para onde as crianças olham, talvez contaremos histórias outras, plenas de vento e invenção, histórias abertas ao porvir.

Um comentário:

Val Becker disse...

E o tempo melhorou de novo!!
A gripe acabou...
Mas a vontade encontrar vocês, é claro que não!
Que bom que você (re)conheceu Kafka, Lulu... heheheh! Fico feliz.

Amadas, que tal na sexta?

Beijooo.