17 de dezembro de 2008

quem conta um conto aumenta um ponto

Narramos tudo o tempo todo. O que vimos na feira, o que ouvimos no ônibus, o que aconteceu na pracinha, o que o beltrano disse, o que o sicrano contou. Descrevemos o tempo, o jogo de futebol, a consulta médica.

Os relatos sintéticos dão nervoso na gente – “ah, o show? foi legal”, “a festa? tava boa”. São tão rápidos que não rendem um fio sequer de enredo. E no reino da narrativa queremos nos enredar para ter o que desenrolar.

Outro dia, meu sobrinho, única criança numa festa enfadonha de adultos, se safou do tédio com um incrível brinquedo invisívelpalavras. Fizemos uma rodinha de criar/contar histórias. Minha avó começou:

"Uma foca jogou para o alto uma bola. A bola rolava e rolava e não parava de rolar..."

A história foi passando de boca em boca, sendo tecida por cada pessoa e por todos.

"Cada vez que rolava, a bola crescia até cair no mar. A essa altura a bola estava maior que a Terra e o mar se esvaziou. No deserto onde antes havia o mar, a foca topou com uma zebra e ficou hipnotizada pelas listras prateadas. A foca começou a puxar as listras do corpo da zebra, que disse "Ui ai ui ai ui".

Um disco voador furou a bola gigante que, vazia, caiu em cima da foca e da zebra como se fosse um toldo. A zebra e a foca fizeram umas estacas com as listras da zebra e levantaram o toldo, criando um circo.

Depois perceberam um brilhinho incomum saindo pelas frestas do porta-malas do disco voador. Tcharam! Os ETs haviam roubado as estrelas! Como estava tudo escuro, a foca usou o que restava das listras da zebra para construir uma escada. Muito desajeitada, a foca subiu na escada para grudar as estrelas no céu do circo. Tudo ficou lindo, iluminado por focos (não focas!) de luz. Por um instante todos se esqueceram daquela situação pouco usual e aplaudiram. Os bichinhos do fundo do mar, agora deserto, que estavam fora do circo acharam que era dia de São João. As palmas pareciam estalinhos. "Mas como assim? Festa de São João em dezembro?", disse um deles, incrédulo. Os outros deram de ombros e continuaram com sua reunião sobre como trazer o mar de volta. Tinham pouco tempo. O oxigênio estava acabando.

Os ETs tentaram descobrir que bicho era a zebra. Chegaram à conclusão – olhando a sua enciclopédia "Bichos que Crescem na Terra” –, de que deveria ser um cavalo. A zebra e a foca tiveram um ataque de riso, pois sempre haviam ouvido dizer que os ETs eram muito espertos e agora eles não pareciam nada espertos.

De repente a Terra começou a tremer. As estrelas no teto do circo tremeluziam. Todos tentaram se enfiar dentro do disco voador, mas este era achatado e cabiam mesmo os ETs. A foca e a zebra tiveram que ficar em cima do disco voador. Por causa disso ele ficou ainda mais achatado.

Um elefante veio chegando vagarosamente, levantou a tromba e esguichou o mar inteiro sobre a Terra criando uma onda enorme como um tsunami. A sorte é que o disco voador virou um veleiro (o toldo do circo serviu de vela). Todos foram dar uma volta ao mundo, coisa que encantou os ETs, pois nunca na vida eles haviam apreciado os peixes e os golfinhos saltando da água, as gaivotas sobrevoando as ondas e o som melodioso das baleias."

E quem quiser que conte outra.

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